
meu filho nao come
“Meu filho não come ” é uma das queixas mais frequentes no consultório. Muitos pais acreditam em uma solução rápida , uma fórmula milagrosa ou uma vitamina para melhorar o apetite da criança. Mas nem sempre é tão simples, precisamos atentar que existem outras questões envolvidas na alimentação como a dinâmica familiar , o comportamento, causas psicológicas e até de vinculo afetivo.
Embora comer seja um ato necessário para sobrevivência, a alimentação é, principalmente, um ato de relacionamento do indivíduo com o mundo . Desde o nascimento quando o bebê é amamentado existe um contato íntimo com a mãe, troca de afeto e a formação de um vínculo afetivo com a mãe. Assim, a alimentação tem papel fundamental não só no crescimento e desenvolvimento geral ,mas também no desenvolvimento psicológico e social .
A falta de apetite ou anorexia infantil é uma condição no qual a criança não come a quantidade de alimento necessária para seu crescimento e desenvolvimento . Por isso , antes de qualquer coisa devemos avaliar se o peso e altura dessa criança estão adequados para idade . Quando se observa o peso e estatura normais , trata-se de uma falsa anorexia e existe frequentemente uma preocupação excessiva da família em querer superalimentar a criança, até por uma questão cultural de que a criança tem que ser forte ou raspar o prato pra ser saudável .
Já a anorexia verdadeira ocorre quando de fato existe uma desnutrição ou comprometimento do crescimento e peso. Nesse caso, primeiro vamos afastar as causas orgânicas , ou seja , as doenças que podem estar afetando o apetite e o crescimento como por exemplo: verminoses, anemia , carências nutricionais, alterações digestivas , enfim, doenças que alterem a absorção de nutrientes .
No entanto , as causas mais comuns da falta de apetite na infância não são orgânicas e sim comportamentais . As causas comportamentais constituem um grande desafio pois o tratamento envolve uma mudança na dinâmica familiar e nos hábitos de toda a família . E o primeiro passo é compreender melhor o desenvolvimento e as fases de aprendizado.
No primeiro ano de vida as crianças descobrem o mundo pela boca , a chamada fase oral . Assim, desde os 3 meses os bebês levam tudo a boca , experimentam o mundo pela boca . Aos 6 meses existe necessidade de complementar a alimentação com novos alimentos . A introdução alimentar é uma fase de aprendizado e tem um papel muito importante no desenvolvimento do paladar e no apetite saudável. Lembrar que é uma fase de aprendizado , a criança está aprendendo a comer , da mesma forma que vai aprender a falar e a andar . Dessa forma, os alimentos devem ser introduzidos de maneira gradual , oferecidos de forma separada, com variedade e aumentando-se a consistência . Com isso a criança vai aprender o sabor , a consistência e a textura dos diferentes alimentos .
Por volta de 1 aninho a criança começa a selecionar os alimentos , quer ter autonomia , quer comer sozinha e quer participar do mundo dos adultos. A criança interage com a comida como que um brinquedo , quer amassar , apertar. Também é muito comum nessa fase a criança passar por uma fase chamada de Anorexia Fisiológica , uma fase de falta de apetite normal ,que ocorre por causa da desaceleração do crescimento e também porque a criança desperta o interesse por outras coisas ao redor e a comida deixa de ser tão interessante .
Também é muito importante saber que desde de bem pequeno o bebê tem a capacidade de regular o apetite, e o apetite da criança é naturalmente muito irregular , alguns dias comem muito bem e outros recusam . E muitas vezes , por ansiedade, os pais e familiares acham que a criança está comendo pouco , forçam a criança comer mais do que precisa e a raspar o prato por exemplo , o que pode acabar gerando uma repulsa alimentar ou o oposto , gerando sobrepeso .
Os pais e toda família devem compreender essas fases , a necessidade de autonomia da criança, a capacidade de regular o apetite para que ela se desenvolva de forma saudável. Assim, deve-se respeitar essas mudanças e as fases sem esquecer da importância de oferecer diferentes alimentos, do exemplo , do reforço positivo .
referencias : Madeira, Isabel R., & Aquino, Leda A.. (2003). Problemas de abordagem difícil: “não come” e “não dorme”. Jornal de Pediatria, 79(Suppl. 1), S43-S54
